Necessidades Educativas Especiais

Um blog de professores para professores sobre as necessidades educativas especiais. "O termo NEE's refere-se ao desfasamento entre o nível de comportamento ou de realização da criança e o que dela se espera em função da sua idade cronológica." (in Ministério da Educação e Valorização dos Recursos Humanos)

domingo, 12 de agosto de 2007

A família de alunos com Necessidades Educativas Especiais

Ao longo dos anos tem sido cada vez mais confirmada a ideia, que a família é parte integrante do processo educativo dos alunos e que a sua envolvência na escola é insubstituível e extremamente necessária.
A presença dos encarregados de educação na escola não deve ser apenas na altura da entrega das notas, deve ser ao longo de todo o ano e de forma insistente. Logicamente, compreendemos que a disponibilidade devido à situação profissional é cada vez mais diminuta, contudo existem outros meios para o contacto, como a caderneta do aluno, o telefone, e para os utilizadores das novas tecnologias, o e-mail. O importante é que o encarregado de educação acompanhe de perto o percurso do seu educando, para atempadamente serem postas em prática estratégias que o possam auxiliar da melhor forma a ter sucesso no seu percurso escolar.
Relativamente aos alunos com Necessidades Educativas Especiais, a família tem uma grande importância e é objecto de atenção redobrada, uma vez que a falta de bem-estar no seio da mesma, motivada por complicações ou dificuldades, pode ser a causa dos problemas dos descendentes. A família é um dos pilares mais importantes no processo, e fazendo parte da equipa de intervenção desde o diagnóstico ao tratamento, deve criar condições emocionais e de sustentabilidade ao aluno.
O facto de existir um elemento na família com uma Necessidade Educativa Especial (podendo ser deficiência motora ou física, síndromes, problemas cognitivos e de aprendizagem) faz com que a família enfrente inúmeros desafios e situações difíceis que podem ter um impacto profundo na vivência familiar e resultar em intensa ansiedade e frustração. Os pais e irmãos são confrontados com os sonhos e aspirações que idealizavam, alterando-os perante a realidade e todos sofrerão modificações. Apesar do medo e da insegurança que inicialmente experienciam, algumas famílias são capazes de ser bem sucedidas na adaptação, revelando-se consideravelmente realistas, com capacidade para ultrapassar a situação e para aprender a viver com o problema que enfrentam. Por outro lado as famílias que ao início estão menos preparadas para aceitar o desafio que uma criança com Necessidades Educativas Especiais (NEE) representa, trabalham, adaptam-se e evoluem de forma tão notória, que a situação difícil não produz efeitos negativos, pelo contrário torna-se numa experiência enriquecedora.
Os irmãos (quando não existem, algum familiar chegado da mesma faixa etária) são membros essenciais da família e desempenham um papel diferenciado do dos pais no apoio a uma criança com NEE. Visto ser uma relação que evolui desde a infância, com a partilha de brincadeiras, da casa, dos pais e de experiências familiares, a relação entre irmãos tem o seu “próprio ciclo vital". A escola pode trazer novos amigos, mas é nos irmãos que será encontrado o apoio incondicional, livre de juízos e pensamentos, exercendo uma influência importante e criando-se uma relação de inter ajuda e protecção. Os pais, irmãos e restante família, juntos, devem desenvolver as bases sólidas e sustentadas para proporcionar ao aluno com NEE uma vida o mais normal possível, preparando-o e advertindo-o para possíveis acontecimentos e para o preconceito e crueldade e da sociedade.
Desta forma, nas famílias onde há uma criança com NEE (ligeira ou severa) a tensão durante os vários períodos do seu percurso escolar pode chegar a ser especialmente aguda. Desde o aparecimento do problema, passando pelas várias fases do tratamento até à intervenção, as preocupações familiares são muitas, entre elas, a necessidade de tomar as medidas necessárias para proporcionar uma boa educação à criança com NEE, de minimizar os problemas da criança que surgem de acordo com cada idade e de criar condições financeiras e emocionais para cuidar da criança.
Para isso não há que haver vergonha em pedir ajuda, quer a familiares quer à escola, ou mesmo recorrendo a especialistas. Normalmente, na escola o aluno tem apoio psicológico, orientação psicopedagógica e por parte dos professores, para no mesmo sentido ajudar a combater e a reduzir as consequências, e esse apoio também pode ser dado aos pais.
Se na sua família existe uma criança ou um adolescente com NEE, o que inicialmente deve fazer é procurar informações e esclarecimentos acerca do problema, através dos professores, do médico de família ou mesmo de pesquisas por iniciativa própria, como na Internet ou em livros. Hoje em dia já existem muitos livros e artigos acerca destes temas que apresentam as características, os sintomas, o tratamento e as estratégias de auxílio. Se for o encarregado de educação, acompanhe o seu educando o mais possível e não se esqueça que esta fase também é nova e difícil para ele, e caso necessário, procure acompanhamento e terapia (psicológica e familiar) de forma a eliminar possíveis dúvidas, a edificar uma realidade familiar construtiva e educativa, e a conseguir da melhor forma possível ajudar a sua família e o seu educando a ultrapassar o problema. A criança terá uma melhor evolução ser for acompanha e se sentir o apoio da família, tal como se sentir bem no seio da mesma.
Caros pais e encarregados de educação, no nosso país existem milhares de famílias de alunos com NEE e novos casos a aparecerem diariamente. O principal é não desistir e ser-se persistente porque tudo pode ser ultrapassado e apesar da dificuldade que isso representa, o mais importante é que exista um ambiente de calma, confiança, segurança e apoio incondicional.

Catarina Malveira

artigo publicado no Jornal de Albergaria de Agosto

O diagnóstico de Necessidades Educativas Especiais (NEE)

Como já foi referido anteriormente, as Necessidades Educativas Especiais podem ser de vários tipos e níveis, desde a deficiência motora, mental à sensorial.
Quando se trata de um aluno com determinada deficiência perceptível, como é o caso das deficiências motoras ou mentais severas, síndromes como de Down ou de Tourette, o processo de diagnóstico e avaliação torna-se mais eficiente, porque apesar de toda a complexidade do problema os sintomas são mais transparentes e quando se chega à idade escolar já existe um vasto caminho percorrido de avaliações e comprovativos médicos especializados. Contudo, quando se trata de um aluno que ainda não está sinalizado, porque só em idade escolar começou a manifestar distúrbios mentais ou sensoriais, ou dificuldades cognitivas, o processo de avaliação vai ser muito complexo.
A maior parte das Necessidades Educativas Especiais só se manifestam em idade escolar, e normalmente é o professor que observa que determinado comportamento ou incapacidade não é normal para determinada faixa etária ou ano de escolaridade. Este é o ponto de partida do processo de diagnóstico de uma possível Necessidade Educativa Especial e é muito importante que o alerta seja dado o mais rápido possível para uma mais rápida avaliação e posterior intervenção. Porque desde o diagnóstico à intervenção, consoante a existência de docentes especializados na escola e a eficiência dos médicos a consultar, pode passar um ano lectivo, prejudicando o processo de evolução e aprendizagem do aluno.
Na legislação em vigor subjacente à Educação Especial existe uma série de procedimentos obrigatórios, e tratando-se de um aluno numa escola pública, o encaminhamento do caso é feito para um docente de educação especial ou para o psicólogo da escola ou do agrupamento. É importante lembrar que ao longo de todo o processo o aluno está a deparar-se com uma realidade diferente e com a qual não está habituado, sendo por isso também essencial ter acompanhamento psicológico de forma a não desenvolver fobia à escola e problemas de auto-estima ou sociais, procurando-se enaltecer e valorizar os aspectos e as características positivas relativas ao aluno, para tratar minuciosamente o que de bom existe e a partir dele construir um projecto de intervenção evolutivo, activo e eficaz.
O envolvimento da família é solicitado logo desde o primeiro momento, tanto para obter autorização para serem feitos determinados testes e exames de saúde, como para apoiar a criança e averiguar se o possível problema não terá como base problemas familiares ou sociais.
Porém, não há um formato estandardizado para o diagnóstico de alunos com NEE na escola regular. Cada um dos aspectos inerentes ao diagnóstico – definição, motivos, objectivos, fases, dificuldades, intervenção – apresenta uma enorme diversidade e complexidade e todos eles têm que ser minuciosamente analisados. Os professores desempenham um papel muito importante, uma vez que terão que observar outras possíveis manifestações que poderão ajudar na sinalização e desenvolvimento do processo. Os especialistas normalmente envolvidos vão desde o médico de família a psicólogos, psicopedagogos, terapeutas, psiquiatras e outros médicos especialistas que usarão os métodos mais eficazes ao seu alcance para da melhor melhor forma ajudar no diagnóstico do problema. Todos os intervenientes no processo, desde os professores, psicólogos, médicos de família e especialistas e sobretudo a família farão parte de uma equipa, cujo trabalho conjunto é fulcral para o decorrer do diagnóstico e da avaliação.
Os benefícios de uma avaliação eficaz são evidentes apesar das dificuldades que surgem ao longo de todo o processo. Nem sempre é fácil diagnosticar, avaliar e sobretudo intervir adequadamente. Na fase de diagnóstico a dificuldade prende-se com a ambiguidade do problema do aluno e de todos os factores a ele inerentes, tornando o diagnóstico e a avaliação num processo moroso, e que devido aos trâmites legais e burocráticos a serem seguidos, limitam e interferem na eficácia da aplicação da intervenção. Por vezes a intervenção é tardia o que penaliza o rendimento e o aproveitamento escolar do aluno e o possível tratamento da disfunção diagnosticada.
Considero que consoante cada caso é necessário um reajustamento contínuo que implique não só o progressivo aperfeiçoamento da aprendizagem, mas a produção de conhecimentos sobre o próprio diagnóstico, uma vez que não é só importante diagnosticar, mas equacionar as necessidades do aluno e relacioná-las com todos os factores, no sentido de uma concepção inclusiva e construtivista da aprendizagem, permitindo ao aluno uma vida escolar mais agradável.
Catarina Malveira
artigo publicado no Jornal de Albergaria de Julho

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